O problema não é a burocraciaGiorgio Forgiarini style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever"> Burocracia não é o problema do Brasil, tampouco é a solução. Burocracia é tão somente um modelo de gestão da coisa pública que se caracteriza pela criação de repartições específicas (bureaus) para a aplicação da lei e execução de políticas públicas. Ponto. É isso! A burocracia, portanto, tem duas funções inglórias: Impor à população os rigores da Lei, o que obviamente vem a contrariar interesses de particulares de toda ordem, e proteger esses mesmos particulares dos mandos e desmandos do poder político, o que certamente frustra os governantes. Assim, a mesma burocracia que nega alvará a um empreendimento que traz riscos à população, também impede que um prefeito ou governador direcionem benefícios a este ou aquele setor da sociedade. A burocracia é, portanto, um instrumento da democracia. Não existe democracia sem burocracia. Pelo papel limitador, a burocracia é alvo do ódio generalizado. Não são poucos os relatos genéricos e simplistas de iniciativas privadas supostamente "inviabilizadas pela burocracia", ou as histórias alienantes de políticas fracassadas por conta dos "entraves burocráticos". Geralmente não se dá aos servidores o direito ao contraponto. SABOTAGENS DE LADO A LADO O desprezo à burocracia não é um problema quando limitado à mera verborragia crítica. Se torna um problema, sim, quando transcende a retórica e passa para o nível da sabotagem. Estão longe de serem exceção os episódios de burla a regras para a obtenção de alvarás ou para a percepção de vantagens. Boa parte da energia burocrática é desperdiçada para flagrar e corrigir situações que deveriam ser coibidas ou sanadas pela própria sociedade civil. O aluno da faculdade que cola na prova, o empresário que induz a erro a fiscalização, ou o bem-de-vida que pede auxílio-emergencial, além de agir contra a moral coletiva, acabam por dificultar a atuação dos agentes da burocracia, que poderiam despender seus esforços para fins bem mais producentes. Pior ainda quando o próprio Governo atua para deliberadamente sabotar a burocracia. O fechamento de órgãos públicos, a falta de critérios para a política de pessoal e o escasseamento de material são fatores que contribuem para fiscalizações inefetivas, processos lentos e decisões confusas, justamente o sonho de quem se beneficia da contravenção. DESPRESTIGIADO SE VENDE MAIS RÁPIDO Uma burocracia desprestigiada é, também, muito mais vulnerável à privatização. Paulo Guedes não é tolo. Não de graça chamou os servidores públicos de "parasitas". Recentemente a maior usina eólica da América Latina (e uma das mais lucrativas) foi privatizada por 17% do valor ali investido. Os Correios estão na fila. Banco do Brasil também. Quem sabe depois as universidades... Tudo sob o aplauso ingênuo de quem acha a burocracia "um horror!" |
O novo tribalismoRogério Koff style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever"> Aos 36 anos, o advogado e apresentador de televisão Ben Shapiro é o novo enfant terrible do pensamento conservador norte-americano. Por conta de posicionamentos polêmicos contrários ao politicamente correto, muitas de suas palestras em campi norte-americanos foram atacadas por grupos esquerdistas autodeclarados "antifas". Em diversos casos foi necessária a proteção policial. Recomendo seu livro mais recente: O lado certo da história. Shapiro defende a tese de que a herança da cultura greco-romana, aliada à tradição judaico-cristã, fizeram a grandeza das sociedades ocidentais. Ao longo do século 20, essas conquistas foram ameaçadas por ideologias totalitárias como nazismo, fascismo e comunismo. O modelo democrático ocidental triunfou, mas a esquerda não aceitou que nações capitalistas pudessem produzir sociedades mais cultas e felizes. Na atualidade, há um outro movimento em curso, diferente das ações pelos direitos civis dos anos 1960. O objetivo não é mais lutar por igualdade, mas impor a ideologia da diversidade. Para tanto, a cultura ocidental deve ser colocada sob suspeita. MARXISMO PURO O conceito central que Shapiro ataca é chamado de interseccionalidade. Trata-se da ideia de que a tradição ocidental é etnocêntrica e discriminadora. As pessoas são classificadas em diversos grupos, como os de classe, raça, religião ou gênero. "O pensamento interseccional promove uma mentalidade de vítima em desacordo com a busca da realização e sucesso", escreve o autor. Quanto mais grupos minoritários são associados a uma pessoa, mais mártir ela é. Uma mulher muçulmana negra e homossexual, por exemplo, é uma vítima em potencial. E se essa mesma mulher for uma próspera advogada em Nova York? Pouco importa. Na ideologia da interseccionalidade, ela sempre será oprimida pela malvada sociedade capitalista. Indivíduos e suas realizações são menos importantes do que os grupos aos quais supostamente pertencem. A sociedade estará sempre dividida entre culpados e vítimas, oprimidos e opressores. Marxismo puro, sob nova roupagem. TEMAS SENSÍVEIS A interseccionalidade é uma perspectiva tribal que aposta no antagonismo e na cultura da vitimização. Aqueles que não pertencem aos grupos autodeclarados minoritários ou que ousam contrariar suas teses são fascistas, racistas, homofóbicos ou machistas tóxicos e, portanto, devem ser calados. Há "temas sensíveis" que não devem ser abordados. A defesa da meritocracia e do individualismo é carimbada como um discurso opressor que deve ser banido. A interseccionalidade segmenta indivíduos em grupos, para em seguida colocá-los uns contra os outros. O novo tribalismo é um bom caminho para a humanidade? Não seríamos mais nobres e felizes se buscássemos valores universais capazes de reunir os seres humanos, ao invés de dividi-los? Voltarei a estes temas nas próximas semanas. |